Uma descoberta rara e significativa foi registrada nos últimos dias no Parque Estadual do Utinga “Camillo Vianna” em Belém. O professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), e fotógrafo de natureza, Gustavo Melo, conseguiu capturar imagens de um uiraçu (Morphnus guianensis) sobrevoando o Lago Bolonha.
A ave conhecida como accipitriforme da família Accipitridae, também é conhecida como gavião-real-falso ou gavião-de-penacho. A identificação da espécie contou com o auxílio do biólogo Felipe Furtado, confirmando a presença da ave em uma das áreas de conservação mais importantes da capital paraense.
O uiraçu é uma espécie rara, mais difícil de ser avistada do que o gavião-real (Harpia harpyja), com o qual compartilha diversas características. Considerada uma das maiores aves de rapina das Américas, o uiraçu pode medir entre 81 e 91 centímetros de comprimento, com as fêmeas geralmente maiores e mais robustas que os machos. Uma de suas características marcantes é o penacho escuro na cabeça, com uma única pena negra mais longa, que o diferencia do gavião-real, que possui duas penas no penacho.
De acordo com a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), o uiraçu é classificado como “quase ameaçado”. No Brasil, a situação é ainda mais crítica em alguns estados da Mata Atlântica, onde a espécie é severamente ameaçada ou até mesmo considerada extinta regionalmente, como no caso do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. A raridade desse avistamento no Parque Estadual do Utinga ressalta a importância da conservação das áreas verdes remanescentes em grandes centros urbanos.
Relevância – O gerente da Região Administrativa de Belém, Júlio Meyer, destacou a importância do registro para a conservação da biodiversidade na região. “O avistamento do uiraçu no Parque Estadual do Utinga é um sinal claro de que nossos esforços para proteger e conservar este ecossistema estão dando frutos. Esse registro reforça a necessidade de continuarmos a trabalhar para garantir que espécies raras e ameaçadas, como o uiraçu, possam encontrar refúgio seguro em áreas protegidas como o Utinga”, afirmou.
O uiraçu é encontrado em florestas conservadas ou com pouca alteração, tanto em florestas primárias quanto secundárias. Prefere viver sozinho ou em pares e é conhecido por passar longos períodos imóvel, oculto em poleiros altos enquanto caça suas presas. Sua ampla distribuição geográfica abrange desde o México até o nordeste da Argentina, com ocorrência registrada em vários países da América Central e do Sul.
No Brasil, a espécie é mais comum na Amazônia, mas também pode ser encontrada em biomas como o Cerrado e a Mata Atlântica. No Cerrado, há registros em pontos do Centro e Sudeste, incluindo Minas Gerais. Já na Mata Atlântica, sua presença é mais notável no sul da Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, embora em algumas dessas áreas a espécie esteja sob risco extremo de extinção.
Refúgio – O Parque Estadual do Utinga, uma das 28 Unidades de Conservação (UCs) do Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflor-Bio), com sua rica biodiversidade e importância ecológica, tem se consolidado como um refúgio para diversas espécies de fauna e flora da região amazônica. O avistamento do uiraçu neste local reflete a qualidade do ambiente preservado e a relevância do parque como área de conservação.
Vale lembrar que em maio deste ano, o Ideflor-Bio, por meio da Gerência da Região Administrativa de Belém (GRB), promoveu um evento que culminou na criação do Clube de Observação de Aves do Pará (Coapa). A iniciativa é aberta à participação de todas as pessoas interessadas em observação de aves.
Para Gustavo Melo, professor da UFPA, que também é atual vice-presidente do Coapa e fotógrafo que registrou o momento, o encontro com o uiraçu foi emocionante e inesperado. “Estava acompanhando a movimentação no lago Bolonha quando avistei a ave sobrevoando a área. Consegui capturar algumas imagens antes que ela desaparecesse sobre a copa das árvores. Foi uma experiência única, saber que registrei uma espécie tão rara e significativa”, comentou.
Avistamentos como este não só contribuem para o conhecimento científico, mas também inspiram o público a valorizar e preservar a rica biodiversidade da região. O Ideflor-Bio enfatiza que o registro do uiraçu no Parque Estadual do Utinga deve servir como um lembrete da importância de proteger os habitats naturais e reforçar as políticas de conservação.