Mais de 3 mil quelônios, entre tartarugas-da-amazônia e tracajás, ganharam a liberdade durante as programações pelo “Junho Verde” em São Geraldo do Araguaia, município da região sudeste paraense. A soltura, realizada ao longo de dois dias, foi fruto de uma parceria entre o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflor-Bio), a Emater e o Instituto Ambiental Xambioá (IAX).
O projeto, que começou com a liberação de 160 animais, é o resultado de 11 anos de trabalho voluntário do aposentado Alípio Murici, que coordena o IAX com o apoio de seus familiares. Entre julho e outubro, eles percorrem até 42 km rio abaixo à procura dos ninhos, de onde os ovos são transferidos para um berçário seguro, longe de possíveis predadores.
Vale ressaltar que, até pouco tempo, encontrar esses quelônios na região de São Geraldo do Araguaia era uma raridade. Porém, graças aos esforços conjuntos do Ideflor-Bio e do IAX, essa situação está sendo revertida. O repovoamento desses animais aquáticos é um sinal positivo de que a preservação está funcionando, apontam especialistas.
Soltura – A liberação dos quelônios aconteceu em três locais específicos do rio Araguaia: na praia em frente ao porto do IAX, e nas comunidades de Ilha de Campos e Santa Cruz. Esses locais estão na Área de Proteção Ambiental (APA) Araguaia e na zona de amortecimento do Parque Estadual da Serra dos Martírios/Andorinhas.
Assim como nos anos anteriores, alunos da rede pública tiveram a oportunidade de acompanhar a soltura, tornando-se parte desse momento importante. Antes, eles assistiram a uma palestra sobre os cuidados e a importância da preservação dos quelônios. Essa atividade educativa ajudou a conscientizar a comunidade sobre a relevância de proteger essas espécies.
Satisfação – Para Alípio Murici, “esse momento é a coroação de um trabalho de anos na tentativa de preservar esses quelônios, que há pouco tempo estavam em extinção. Há 11 anos, quando comecei essa ação, encontramos apenas três ninhos. Hoje, conseguimos identificar mais de 50 ninhos, resultando em 3 mil quelônios liberados na natureza”, disse o aposentado.
Murici destacou, ainda, a importância dos quelônios no equilíbrio ambiental e na qualidade da água. “Eles fazem uma verdadeira limpeza nos rios, consumindo plantas aquáticas e peixes mortos, o que melhora a qualidade da água. Sem eles, nossos cursos d’água poderiam rapidamente se tornar impróprios”, frisou.
Parceria da Emater
Para a coordenadora de operações da Emater, engenheira ambiental Camila Salim, especialista em Gestão Ambiental e Sustentável na Amazônia e Mestra em Ciências Ambientais, a importância das ações concomitantes refere-se, ainda, a educação ambiental, sobretudo no contexto do Pará como sede da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), em 2025.
“Precisamos intensificar a responsabilidade no que tange às práticas ambientais corretas e equilibradas, para mantermos o meio ambiente sadio”, resume. A gestora ressalta que, de acordo com a legislação vigente, tal obrigação não se restringe ao poder público: é de toda a coletividade.
“Uma das metas da Emater sempre foi fortalecer as comunidades paraenses a produzir de forma sustentável, garantindo um alimento saudável, sem agrotóxicos, e garantindo as áreas de proteção, as áreas de preservação, que as desmatadas sejam reflorestadas, que as reservas legais sejam restauradas. A Emater é o braço principal para executar essas políticas de restauração florestal, por estar nos 144 município”, discorre.
Procriação – A reprodução dos quelônios é cuidadosamente monitorada. A desova dos tracajás ocorre de julho a agosto, enquanto a das tartarugas-da-amazônia vai de setembro a outubro. Os ovos são transferidos para uma praia protegida, onde ficam de 50 a 60 dias. As eclosões ocorrem entre novembro e dezembro, e os filhotes são então transferidos para um tanque no IAX até estarem prontos para retornar ao rio.
O diretor de Gestão e Monitoramento das Unidades de Conservação do Ideflor-Bio, Ellivelton Carvalho, enfatizou a importância de conscientizar a população sobre a preservação da biodiversidade do rio Araguaia. “Garantir o equilíbrio ambiental é fundamental, e o repovoamento dos rios com diversas espécies é essencial para esse esforço”, afirmou.
A gerente da Região Administrativa do Araguaia, Laís Mercedes, garantiu o apoio contínuo ao trabalho do IAX. Ela destaca que a iniciativa simboliza um avanço significativo na conservação ambiental, assegurando que futuras gerações possam usufruir de um ecossistema equilibrado e rico em biodiversidade.
“Desde 2018, apoiamos esse projeto essencial para a preservação dos quelônios. Os avanços na continuidade das espécies são visíveis, juntamente com um forte trabalho de educação ambiental. Convidamos toda a população a abraçar essa causa conosco”, pontuou a dirigente.